Entrevista "Frente a Frente com Rosalina" (Mulheres Gerentes de Projetos no Brasil)
- Projeto GP Feminno
- 9 de mar. de 2018
- 6 min de leitura

"Especialista em planejamento, orçamentação e controle de obras, com 23 anos de atuação em empresas do setor da construção civil, em diferentes áreas e nos últimos anos, teve a oportunidade de compor e coordenar times de grandes projetos como o Parque Eólico de Osório (o maior da América latina), Expansão da Refinaria Alberto Pasqualini da Petrobrás, Usina Termelétrica de Candiota/RS, paradas de manutenção da Braskem (antiga Copesul), Expansão do Shopping Center Iguatemi de Porto Alegre, recuperar atrasos de obras Portuárias pelo Brasil, sendo uma delas a Expansão do Porto de Itaqui da EMAP em São Luiz do MA. , entre outras. Hoje, à frente de uma empresa de consultoria: a Chronus Management.
Graduanda em Engenharia de Produção pela PUCRS, Técnica em edificações com mais de 30 cursos de especialização, é membro do PMI (Project Management Institute) e da Socidade Brasileira de Coaching."
1- Vivian, a sua vida profissional está alicerçada no Planejamento e Controle de grandes projetos de obras, projetos de paradas de manutenção, recuperação de obras em atraso, ou seja, num ambiente pesado, complexo, desafiador, repleto de cobranças e, geralmente, masculino. Conte-nos um pouco dessas experiências, das dificuldades vivenciadas, e de como você tem conseguido lidar com elas. Ah! Obviamente existe o lado bom de se trabalhar nesse ambiente também. fale-nos um pouco sobre isso.
Grandes e complexos projetos apresentam características bem marcantes (diferenças geográficas e culturais, contato direto com os elementos da natureza, significante impacto no meio ambiente, grande número de partes interessadas, grande quantidade de recursos materiais e financeiros para sua execução, e estruturantes para a comunidade ou região que se desenvolvem) que originam a maioria dos desafios técnicos e de gestão enfrentados e consequentemente, viram um grande fator motivacional. Lidar com todas estas características acrescidas de suas adversidades, exercita constantemente as nossas capacidades de resiliência, flexibilidade, comunicação e negociação, gerando um aprendizado exponencial. Fora a condição das equipes serem geralmente compostas por especialistas, o que oferece uma condição de troca contínua de conhecimento e crescimento conjunto, ou seja, é um grande laboratório. O ambiente predominantemente masculino é desafiador pela objetividade e praticidade exigida.
Geralmente, estas obras ocorrem em regiões distintas e por um período determinado, o que nos leva a uma condição de “vida de trecho” (termo utilizado para os profissionais da engenharia civil que vão ao encontro dos projetos, viajando de região em região) o que não é nada fácil: estar distante de casa, da família, de grande parte das suas referências, faz da solidão companheira constante mas que com o passar do tempo, acostuma-se ou melhor, aprende-se a lidar melhor com este fato.. Alguns, com um maior grau de maturidade a resignificam para um estado de solitude e outros, em condição extrema abandonam.
Boa parte destas obras, ocorreram no período do boom recente da engenharia e sofreram suas devidas consequências, principalmente a da falta de recursos, o que gerou uma verdadeira corrida contra o tempo. O tempo é um fator crucial, pois a maioria dos contratos apresentam penalizações pelo atraso das suas entregas. O ritmo é algo fora do comum, tudo ocorre de forma muito rápida e o grau de cobranças, a pressão, é altíssimo. A sensação, é de estarmos em uma grande panela de pressão. Há de se ser muito resiliente, ter paixão pelo que se faz e acima de tudo, acreditar no resultado final do projeto.
2- Sabemos que você se envolve também com projetos e estudos que vão além do lado pragmático da gestão de obras, tais como a filosofia oriental e o entendimento da gestão de grandes obras da antiguidade. Isso nos interessa bastante Conte-nos sobre isso.
Eu tenho uma busca espiritual desde muito nova, acredito que viemos a este mundo com um propósito maior de desenvolvimento e contribuição, uma causa pessoal/coletiva. Frequentava um grupo hinduísta, e vinha buscando outras práticas meditativas quando em 2002, tive a oportunidade de participar do Projeto de construção de um Templo Budista, que gerou um salto quântico na minha vida (risos). Já era apaixonada pela arquitetura oriental, suas formas e cores, e ter a oportunidade de contatar de forma tão próxima com sua filosofia e métodos, tocou meu coração.
Após uma viagem a Machu Pichu, já membro de uma escola de Filosofia à Maneira Clássica, fiquei perplexa e intrigada com a condição dos grandes projetos da antiguidade, de sua produção e principalmente o seu gerenciamento em épocas de tamanhas restrições e dificuldades. Como muitos, pensava que projetos tão grandes e complexos deveriam ter tido alguma forma de organização dos seus recursos (humanos, financeiros e naturais), bem como um tempo pré-determinado para as suas entregas mesmo em condições de muitos que apresentam gerações executivas, como o Projeto da Muralha da China que levou 1.588 anos para ser concluído e atingiu um extensão de 2.300 km de distância, onde escravos em sua maioria trabalhavam ate a sua exaustão e o material e as técnicas construtivas variaram mediante a evolução dos tempos e das novas tecnologias de construção.
Despertou em mim, uma grande vontade de estudo do tema, e a cada descoberta das pesquisas existentes, me deparei com inúmeras situações encantadoras como a da Basílica de Santa Sofia (532-537 d.C), concluída em 5 anos, construída em Constantinopla (hoje, Instambul na Turquia) em uma área de terremotos, foi planejada de forma inteligente e construída com materiais flexíveis o que a faz sobrevivente a inúmeros terremotos; as pirâmides de Gizé (2550-2530 a.C) no Egito, onde as bases das pirâmides apresentou grandes desafios técnicos por exigirem o mesmo nível para a construção das câmeras fúnebres; o Coliseu, localizado em Roma na Itália (69-79 d.C), construído em um período de 10 anos, onde foi utilizado vários tipos de matérias-primas consideradas revolucionárias para a época como por exemplo, o concreto.
Se analisarmos estes grandes projetos ao longo da história sob a perspectiva do moderno gerenciamento de projetos, como foi feito por Kozak-Holand (2011) descobriremos inúmeras similaridades no gerenciamento do tempo, dos custos e das pessoas o que de certa forma, também é confirmado por Walker e Dart (2011), quando afirmam que nas grandes obras da antiguidade principalmente, no Império Romano, houveram práticas e processos de gerenciamento de projetos similares aos que praticamos hoje e acreditam que a diferença dos gerentes de projeto da Antiguidade que denominam como “gerentes de projetos acidentais“ para o gerentes atuais, é que hoje, temos a forma executiva dos processos transformados com o avanço tecnológico da produção. O tema é complexo, de extrema realização pessoal e há muito a ser percorrido.
3- Por fim, vemos que apesar de objetividade e pragmatismo, a sua trajetória profissional te levou a acreditar e investir também numa formação complementar nos assuntos comportamentais, centrados no ser humano. Uau! como é isso?
Pessoas são a causa de tudo o que acontece em projetos. Elas coordenam, gerenciam, decidem, aprovam, resolvem problemas e executam todas as atividades de suporte, obtendo êxito ou complicando um projeto ao longo do seu curso previsto. E é só cometerem um erro, que o problema logo surge tendo suas dificuldades aumentadas mediante a condição de uma competência gerencial abaixo da média. Ao falhar em agir, acompanhar, tomar decisões, analisar ou avaliar os projetos estão se desviando do seu curso.
Como dizem, 50% dos desafios que se apresentam em projetos são de natureza comportamental e a minha experiência é que a maioria das falhas em projetos decorre mais dos fatores comportamentais do que dos fatores quantitativos. Isso inclui questões como baixa moral, fraco trabalho em equipe, falta de comunicação efetiva, baixa motivação e trabalhar para um gerente de projeto que não têm interesse em crescer, prezar pela saúde e bem-estar da equipe. O lado humano do gerenciamento de projetos é composto por duas premissas:
As pessoas são a causa dos problemas dos projetos;
Os problemas dos projetos somente podem ser resolvidos pelas pessoas;
Se boa parte dos problemas dos projetos está relacionada ao comportamento humano, então uma boa parte da atenção gerencial deve se orientar para esses logo, resolvi buscar soluções para estes problemas que nos geram tanta dor de cabeça na implementação dos projetos, em temas como: trabalho em equipe, comunicação, administração do tempo gerencial, tomada de decisão, além de tópicos clássicos como organização, planejamento e papéis e responsabilidades, através de estudos e treinamentos em comunicação, PNL (programação neurolinguística), psicologia positiva, negociação, e uma formação em Coaching.
Devemos compreender os enormes benefícios que obtemos ao sabermos lidar com as equipes e todos os colaboradores dos projetos: aprendendo soluções para desafios da natureza humana, aumentando a capacidade de gerenciar projetos eficazmente, relacionando-se melhor com os outros e assim minimizando conflitos, aprendendo a criar sinergia de equipes, tornando-se um profissional mais habilidoso aos olhos de chefes e colegas e garantindo parte significativa do sucesso na gestão de projetos: a gestão de pessoas é um fator decisivo para o sucesso dos projetos.











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